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Para Ana Gomes, CEO da Remax ForEver, a liderança tem de ser inspiradora. E trabalhar a humanidade e empatia é um lema de vida.
"Liderar para fazer brilhar outras mulheres. Este é um dos objetivos (profissionais e de vida) de Ana Gomes. Durante vários anos ligada à área da saúde, encontrou no ramo imobiliário, já lá vão quase 10 anos, espaço para fazer diferente. Ajudar pessoas a crescer é algo que a preenche enquanto empresária e mulher – e a mentoria é das coisas que “mais lhe alimenta a alma”. Criou o Women Empowered by For.Ever ainda antes da pandemia, um projeto de empreendedorismo social e feminino com o objetivo de inspirar e construir mudança na vida de outras mulheres. Em entrevista ao idealista/news, neste Dia da Mulher, deixa ainda alguns conselhos para quem quer triunfar neste e noutros setores.
Para a CEO da Remax ForEver, desenvolver e fazer crescer um negócio passa necessariamente por “te desenvolveres enquanto pessoa”. É importante, acredita, trabalhar a autoestima e confiança, e é por isso que tenta oferecer às suas equipas ainda mais ferramentas para que se descubram, e se sintam mais empoderadas enquanto mulheres, mães, companheiras, amigas e profissionais. Para Ana Gomes, este é o melhor investimento que se pode e deve fazer enquanto líderes: “valorizar as pessoas que acreditam em nós e agradecer-lhes por entregarem o melhor todos os dias”.
Acredita que a liderança tem de ser inspiradora, para ser transformadora, e por isso tem a ambição de trazer a espiritualidade para os negócios. Em que medida? Dotando as pessoas que trabalham numa empresa ou organização de uma maior consciência de si mesmas, para que isso se possa refletir no serviço e na relação com os outros. Trabalhar a humanidade e empatia são, para si, pilares fundamentais.
Através do Women Empowered by For.Ever, dedica parte do seu tempo a ajudar mulheres (dentro e fora do imobiliário) que queiram empreender, abrir negócios, “mulheres que a determinada altura querem dar o seu salto e não sabem como e têm receio”. Sabe que “empreender não é para todas”, mas ainda assim, para aquelas que têm essa vontade, está disponível ajudar e poder passar um pouco do seu conhecimento e experiência.
Como é ser mulher e fazer carreira no imobiliário?
Ser mulher para mim é um grande desafio e durante muitos anos eu desejei ser homem. Sou filha única, o meu pai era um homem bastante conservador, e lembro-me de ser adolescente e de não poder fazer muitas coisas que os rapazes na altura podiam fazer. Então essa minha vontade, esse meu desejo de ser rapaz, vinha muito por tudo aquilo de que eu era privada, pelo facto de ser menina. Engraçado que isso acabou por se refletir depois na minha vida profissional, que durante muitos anos tive bastante dificuldade em trabalhar com mulheres. Sempre preferi trabalhar com homens em detrimento das mulheres. Se eu tivesse que escolher até na escola trabalhar, fazer um trabalho de grupo com uma rapariga ou com um rapaz, eu preferia estar no grupo do rapaz. Os meus amigos eram maioritariamente mais homens do que mulheres. Eu desabafava muito mais nessa época com um homem do que com uma mulher. E, curiosamente, hoje a minha vida é toda em função das mulheres. Como de facto a nossa perceção muda quando nós mudamos. E isso aconteceu muito por conta do imobiliário.
Eu estive muitos anos ligada à área da saúde e quando venho para o imobiliário, há já quase dez anos, vim para um ambiente completamente informal. A área da saúde é um ambiente muito mais formal, muito mais conservador. A área do imobiliário toda ela é muito informal. E eu cheguei aqui e tinha imensas mulheres já a trabalhar na empresa. Há um staff maioritariamente feminino e eu comecei a sentir esse apelo e essa necessidade de me encaixar, de ser mais flexível, de dar essa oportunidade às relações, a um outro tipo de relações. E de facto, foi uma descoberta. Comecei a sentir cada vez mais esse apelo de estar próximo das outras mulheres, de perceber que nós somos o espelho umas das outras, que os meus medos são os medos das mulheres e que de facto, nós juntas somos muito mais fortes e somos muito mais úteis, mesmo dentro das empresas, das organizações. Quando nos unimos.
O imobiliário é (ou era) um setor maioritariamente masculino, embora a realidade esteja a mudar. Quais foram as maiores dificuldades durante o seu percurso? E as maiores vitórias?
Curiosamente, é uma tendência que se está a inverter. Nós, por exemplo, na Remax, temos mais mulheres do que homens no grupo. Nós aqui na agência também somos mais mulheres do que homens. Na liderança de agências, e é transversal às marcas, e cada vez mais, sobretudo desde a época que eu entrei, nós temos uma liderança repartida, em que são os casais que estão à frente das marcas e das suas próprias agências. Ou seja, há uma divisão de tarefas entre o marido e a mulher. Porquê? Porque esta é uma área que requer muito tempo, muito foco, muita resiliência. E o trabalho em casal ajuda, porque há maior compreensão, há maior dedicação e esforço de ambas as partes. Portanto, eu não sinto que hoje em dia o imobiliário seja tão masculino quanto isso. Pelo contrário, acho que ao longo dos anos, apareceram cada vez mais mulheres a gerirem equipas, com resultados inacreditáveis, a fazer um trabalho espetacular nesta área.
A Ana acredita na liderança pelo exemplo. Como é que esta premissa se concretiza na prática?
Há vários tipos de liderança e eu comecei a liderar desde muito jovem, porque desde os meus 20 anos que comecei a trabalhar e já na época liderava uma equipa com mais de 40 pessoas. E nesse modelo de liderança eu acho que me fui descobrindo. E eu acredito que a liderança, ela tem de ser inspiradora, e para que seja também transformadora, e que tenha um impacto nas pessoas que nos rodeiam, nós temos que ser o exemplo. Eu não posso pedir a alguém que trabalha comigo, que seja ou faça uma determinada coisa, se eu não sou ou se não faço essa mesma coisa. E às vezes as organizações pecam aí. Exigem muito das pessoas com quem trabalham, mas na realidade não são capazes de fazer nem um terço daquilo que pedem.
Senti ao longo da minha vida que esse ‘gap’ de liderança era onde falhavam a maior parte das organizações e a maior parte das lideranças. Nesse sentido, eu tenho vindo a trabalhar muito esse tópico, que é um tema que eu particularmente me interesso e que eu sinto que desde que comecei a fazer um trabalho de desenvolvimento humano e desenvolvimento pessoal, a questão da liderança e a questão de liderar-me mudou completamente a minha forma de estar no negócio. Eu diria que o meu maior desafio é liderar-me, porque eu para liderar alguém, eu tenho que me conseguir liderar a mim. Se eu não me liderar a mim, como é que eu tenho capacidade e conhecimento para liderar seja o que for?
Numa entrevista que deu, disse que seria a mesma pessoa na vida e nos negócios. E como é que se garante o equilíbrio necessário entre estes dois mundos?
Eu hoje não sou a mesma pessoa que fui ontem. Mas há uma coerência e um caminho, uma consistência no meu ser. É um grande desafio manter essa mesma coerência e essa estabilidade na vida pessoal e na vida profissional. Mas nós somos um todo e se isso não acontecer, alguma coisa vai ficar para trás. Esse é um objetivo meu e digamos que é uma prioridade minha manter essas duas áreas alinhadas, não uma em detrimento da outra, acho que ambas são importantes. É importante definir prioridades, ter tempo para as minhas coisas, ter tempo para a empresa. Eu acho que é preciso gerir esses dois mundos em prol de uma estabilidade e de uma paz que é essencial para o sucesso.
Foi também a propósito de melhorar as relações que nasceu o Women Empowered by ForEver. Em que consiste este projeto, quando é que começou e quais são os objetivos?
O Women Empowered by ForEver surgiu justamente pela minha relação com as mulheres no imobiliário. Eu comecei a sentir que as mulheres eram muito independentes, no sentido em que não havia muita relação, muita proximidade. Enquanto que os homens, por exemplo, facilmente se juntam ao final do dia e vão beber uma cerveja, ou vão jogar futebol, ou enfim, estão a conversar sobre nada... As mulheres têm mais dificuldade em se unir e estar próximas umas das outras, são mais independentes e estão sempre ocupadas com os seus afazeres pessoais, profissionais e andam sempre num corre corre que eu não senti nos homens. Senti que os homens eram mais unidos, mais próximos uns dos outros e senti que faltava trazer essa união, essa unidade, sobretudo para a minha empresa, para as mulheres. Então resolvi criar o Women Empowered antes da pandemia, num conceito de pequeno almoço. E o que é que nós fazíamos? Tínhamos encontros a cada três meses, em que reuníamos aqui na agência 50 mulheres, consultoras e parceiras, amigas, enfim, quem quisesse frequentar. Era um evento aberto, de livre de acesso.
Convidava sempre uma oradora com um papel ativo nas redes sociais, na sociedade, que trouxesse um tema inspirador e que provocasse ali alguma inspiração, alguma transformação nas mulheres que assistiam a essas mesmas partilhas. E nós fizemos vários pequenos almoços, trouxemos mulheres incríveis e entretanto veio a pandemia e fomos privadas desses encontros, e passámos então a um projeto totalmente online. Hoje é um projeto naturalmente orientado para as mulheres e é como eu disse há pouco, a liderança é um tema que realmente me inspira e que eu acho que faz a diferença no negócio. Trata-se de um projeto totalmente solidário, pro-bono. Eu dedico o meu tempo a ajudar mulheres que queiram empreender, mulheres que queiram abrir os seus negócios, mulheres que a determinada altura querem dar o seu salto e não sabem como e têm receio. Empreender não é para todas, é um facto, mas ainda assim, aquelas que têm essa vontade, eu estou disponível para as ajudar e para poder passar um bocadinho do meu conhecimento, do meu know-how, da minha experiência e, sobretudo, para não fazerem os mesmos erros que eu fiz durante alguns anos. Acho que a minha experiência pode ajudar nesse sentido.
O que cada mulher pode fazer, e cada organização/empresa, para melhorar o contexto de trabalho e social das mulheres?
Enquanto líder, a minha prioridade são as pessoas e eu potencio muito o trabalho de desenvolvimento humano dentro desta organização. Porque eu acredito que quando nós potenciamos esse lado entregamos ferramentas de autoconhecimento, de despertar. E naturalmente estamos a despertar nessas pessoas melhores profissionais, melhores mães, melhores pais, melhores companheiros, melhores amigos. E mais uma vez, é esse equilíbrio que eu quero trazer aqui para casa. Eu quero ter pessoas a trabalhar comigo autoconfiantes, seguras. E isso acontece através de um trabalho desenvolvimento humano. E é isso que nós temos feito muito, à parte da formação, do conhecimento de mercado, enfim, todas as ferramentas essenciais e determinantes para que o negócio aconteça. Nós desenvolvemos muito essas soft skills das pessoas que cá trabalham.
O ano passado fizemos um trabalho de imagem com toda a equipa. Cada uma das pessoas fez um programa de auto-imagem em que uma personal shopper foi com elas às compras, tiveram de fazer uma sessão fotográfica. A personal shopper teve na sua casa, a ver o seu guarda-roupa, a escolher as peças que as favorecem. Um trabalho também com maior profundidade, para perceberem quem são, qual a mensagem que elas querem passar, com a forma como se vestem, as cores que elas utilizam, o seu biotipo, a mensagem que querem passar através das cores que usam, enfim, todo um trabalho que foi muito interessante de desenvolver em cada uma delas. E foi um trabalho bastante intenso e profundo e obviamente que isso traz para dentro da organização um bem-estar, uma maior produtividade, uma maior proximidade entre a liderança e todos os elementos. Não tem preço. Acho que o maior investimento são necessariamente as pessoas. Caso contrário, não faz sentido.
Que conselhos deixa para inspirar outras mulheres a triunfarem nestes e noutros setores?
O conselho que eu gostaria que me tivessem dado há 26 anos, que é: começa a trabalhar em ti, começa nesse caminho de despertar, começa nesse caminho de te conheceres, de fazer essa viagem para dentro. As melhores viagens que eu fiz da minha vida foi para dentro, na descoberta do meu ser, na construção do meu ser. E todas as ferramentas que eu tenho encontrado dentro de mim, todas elas são essenciais e determinantes para a pessoa que eu sou hoje, para o sucesso da minha empresa, da minha organização e para aquilo que eu ainda quero ser e quero alcançar. A componente humana ela é determinante. Não existe sucesso sem desenvolvimento, sem autoconhecimento.
Tem a ambição de trazer a espiritualidade para os negócios. Em que medida?
Eu tenho a ambição e o desejo de trazer a espiritualidade para os negócios. Eu acho que é necessário trazer essa consciência para dentro das organizações, dotar as pessoas que lá trabalham de uma maior consciência de si mesmas, para que isso se possa refletir no serviço e na relação com os outros. Acho que é necessário trazer essa verdade, essa clareza para os negócios, e de facto as pessoas aprenderem a ser mais humanas, a ter mais empatia umas pelas outras, a serem mais verdadeiras. Aprenderem a colocar-se no lugar do outro, que é uma grande dificuldade que eu sinto no meu dia a dia. Vejo que as pessoas são muito egoístas, estão muito focadas em si, têm muita dificuldade em entender o coletivo, o todo, e nós somos parte do todo. Nós precisamos de trazer essa consciência do coletivo à nossa vida e às nossas organizações, porque não existe a vida pessoal e a profissional, nós somos parte do todo.
A arte é outra das suas paixões. Trouxe-a, também, para o mundo do imobiliário. Porquê?
A questão da arte surge primeiro porque eu gosto de arte, porque eu invisto em arte. Já desde muito jovem que eu o faço. E depois surge por uma necessidade de diferenciação no mercado e porque me fez todo o sentido. Senti que era uma forma de nós trazermos mais notoriedade para a nossa marca e nos destacarmos junto dos nossos clientes, entregando algo que eles de facto não esperam receber, que é a questão da arte. E depois, porque para mim faz todo sentido, porque a arte e cultura é uma forma de nos expressarmos. E também está nas casas. Há casas que são verdadeiras obras de arte, há obras de arte maravilhosas nas casas e muitas casas que nós visitamos e que vendemos. Pareceu-me que este ‘match’, que este seria casamento perfeito e que naturalmente trazia a aqui maior proximidade e conexão com alguns nichos, mas sobretudo com os nossos clientes e com a nossa equipa."
fonte: "Idealista.pt" - "2023-03-08"