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Taxas Euribor já estão entre 3,5% e 4% e deverão continuar a subir depois do BCE ter aumentado as taxas diretoras em 25 pontos.
"Os avisos de Christine Lagarde oficializaram-se: as taxas de juro diretoras do Banco Central Europeu (BCE) voltaram a subir 25 pontos base esta quinta-feira, dia 27 de julho, atingindo os 4,25%, o maior valor registado desde o verão de 2008. Uma vez mais, este novo aperto da política monetária vai voltar a pressionar a subida das taxas Euribor, que já estão em 4%, elevando as prestações da casa das famílias. Todo este cenário indica que os custos associados ao crédito habitação não deverão baixar tão cedo, até porque Christine Lagarde deixa em "aberto" uma nova subida dos juros diretores para setembro.
No final de junho, a presidente do BCE deixou um aviso bem claro: “Se não ocorrer uma alteração substancial das perspetivas de inflação, [o BCE continuará] a aumentar as taxas em julho”, declarou Christine Lagarde. E assim foi. Como a inflação na Zona Euro em junho se fixou em 5,5% - um nível bem acima da meta dos 2% - e espera-se que "permaneça demasiado elevada durante demasiado tempo", o regulador europeu decidiu voltar a subir as taxas de juro diretoras em 25 pontos base na reunião desta quinta-feira, elevando a principal taxa de refinanciamento para 4,25%, o nível mais alto desde julho de 2008.
Esta decisão do BCE não traz boas notícias para quem tem crédito habitação ou pretende comprar casa com recurso a financiamento bancário nos próximos meses. Isto porque, se as taxas Euribor já estão no patamar dos 4%, este novo aumento dos juros diretores deverá estimular novas subidas nos próximos meses. E, em resultado, todas as tendências já sentidas no mercado português deverão sair reforçadas, desde as renegociações do crédito às amortizações antecipadas, passando também pela compra de casas mais baratas e pedidos de créditos habitação de menor valor.
Euribor vai ficar acima dos 4% nos próximos meses
A nova subida das taxas de juro diretoras decidida esta quinta-feira vai dar novo gás ao trajeto ascendente levado até agora pelas taxas Euribor. Isto quer dizer que a Euribor deverá continuar a subir nos próximos meses, consolidando a sua posição no patamar dos 4% para todos os prazos (3, 6 e 12 meses).
No final de junho, a média mensal da Euribor a 12 meses chegou aos 4,007%, o patamar mais elevado desde novembro de 2008. E, até agora, a média da Euribor de 12 meses para julho está nos 4,162% (um nível já superior ao observado no mês anterior). Também as médias mensais da Euribor a 6 e a 3 meses já estavam bem acima de 3,5% em junho, estando atualmente as taxas diárias a caminhar rumo aos 4%.
As perspetivas dos especialistas de mercado apontam para que a Euribor continue a subir nos próximos meses, não dando tréguas às famílias tão cedo. Foi isso mesmo que disse Mário Centeno, governador do Banco de Portugal (BdP), no final de junho, apontando que as taxas Euribor vão continuar a subir até setembro (12 meses) e novembro (3 e 6 meses), antecipando que a partir destas datas comecem a cair lentamente. No que diz respeito às previsões de evolução da Euribor a 12 meses, a espanhola Funcas acredita que a média anual desta taxa se fixe em 4,25% em 2023 e em 4% no próximo ano. Já o BBVA Research não descarta a hipótese desta taxa chegar a 4,5% nos próximos meses.
Isto quer dizer que as famílias que estão a pagar créditos habitação de taxa variável (ou mista em período variável) vão sentir as prestações da casa a voltar a aumentar este ano assim que forem atualizadas trimestral, semestral ou anualmente (consoante o prazo da Euribor contratado). E, quem sabe, poderão começar a sentir um ligeiro alívio nas prestações no final de 2023 ou já em 2024. Tudo depende das futuras decisões de política monetária do BCE.
Mas também há quem questione se a Euribor pode chegar mesmo a 5%, como se verificou em 2008. Sobre este ponto, Miguel Cabrita, responsável pelo idealista/créditohabitação em Portugal, afirma que “especular sobre o futuro da Euribor e seu teto máximo é arriscado, porque tudo dependerá da evolução da inflação e do possível impacto dos aumentos de taxas no crescimento económico e no emprego”. No entanto, confessa que não se pode "esquecer que historicamente a inflação é difícil de conter" e que se têm "visto taxas superiores às atuais”.
Impactos da nova subida de juros acentuam tendência no crédito habitação em Portugal
Portanto, a nova subida das taxas diretoras pelo regulador europeu vai continuar a ter impacto nos créditos habitação em Portugal (novos e existentes) por via da subida dos juros. Ao que tudo indica, este novo aumento vai dar um novo impulso aos movimentos já visíveis neste mercado em Portugal:
• Dificuldade em aceder ao crédito habitação continua: o Banco de Portugal (BdP) já confirmou que a procura por empréstimos para comprar casa está a diminuir e que esta é uma tendência que veio para ficar, pelo menos, até ao terceiro trimestre de 2023. Isto acontece não só porque as prestações da casa escalaram para níveis incomportáveis, sobretudo, pelas famílias com menor poder de compra, mas também porque as taxas de esforço calculadas na hora de pedir o crédito a taxa variável ou mista (os mais solicitados no país) continuam a considerar o teste de stress de 3%, impedido muitos de conseguir empréstimo para comprar casa. Esta medida macroprudencial poderá vir a ser revista em breve, de acordo com o BdP. Além disso, com a subida dos preços das casas, o dinheiro necessário para dar de entrada no crédito habitação em Lisboa e no Porto praticamente duplicou entre 2017 e 2022, aponta novo estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos.
• Amortizações antecipadas no crédito habitação a escalar: este movimento disparou em 2023 e deverá manter-se este ano, já que o Governo eliminou as comissões e impostos à amortização antecipada dos créditos a taxa variável e, agora, permite o resgate do Plano Poupança Reforma (PPR) para pagar a prestação ou amortizar o empréstimo. Desta forma, as famílias conseguem baixar as prestações da casa ou até ficar livres da dívida à banca;
• Procura de crédito habitação está a mudar: com a subida dos juros, as famílias estão a comprar casas mais baratas e a pedir créditos habitação de menor valor, tal como indica o relatório trimestral do idealista/créditohabitação em Portugal. Além disso, estão a dar maior valor de entrada no empréstimo e a optar cada vez mais por taxas mistas;
• Oferta de crédito habitação adapta-se: com a procura de crédito habitação a descer e a mudar, os bancos tendem a adaptar a sua oferta para atrair clientes. Uma das formas é baixar o spread para créditos de risco médio. E também optam por criar ofertas de taxa mista mais atrativas, uma vez que estão a ser mais procuradas atualmente;
• Renegociações dos créditos habitação em alta: dado que há cada vez mais famílias em dificuldade em pagar a prestação da casa devido à subida dos juros, as renegociações dos créditos habitação têm vindo a subir, tendo representado 22,8% dos 16.609 milhões de euros concedidos em novos empréstimos entre junho de 2022 e maio de 2023. Além disso, o Governo lançou novas regras para renegociar os créditos que incentivou esta tendência.
Como vão evoluir os juros do BCE em setembro?
Depois deste novo aperto da política monetária em julho, há uma questão que se impõe: o que vai acontecer na reunião de setembro? Ainda ninguém sabe, até porque a política monetária do BCE é decidida reunião a reunião, sendo baseada em dados da inflação e outros indicadores económicos que só serão conhecidos mais tarde. Na visão de Mário Centeno, só depois do verão é que pode haver uma “maior previsibilidade” sobre a evolução das taxas de juro.
Após a reunião de política monetária desta quinta-feira, Christine Lagarde deixou em "aberto" as próximas decisões sobre as taxas de juros. “Temos uma atitude aberta quanto às decisões que vão ser tomadas em setembro e nas reuniões seguintes”, disse a presidente do BCE, explicando que “pode ser uma subida ou uma pausa”, mas garantidamente não será um corte. E mesmo que o regulador europeu decida manter inalteradas as três taxas de referência em setembro, tal “não quer dizer que seja definitivo”, uma vez que tudo depende dos dados económicos obtidos na altura.
O que se sabe é que "as futuras decisões do Conselho do BCE assegurarão que as taxas de juro diretoras do BCE sejam fixadas em níveis suficientemente restritivos, durante o tempo que for necessário para lograr um retorno atempado da inflação ao objetivo de médio prazo de 2%", explicam em comunicado divulgado esta quinta-feira.
A verdade é que desde o Parlamento Europeu tem havido pressões para que o BCE coloque um ponto final na subida de juros depois do verão, sob pena de gerar uma recessão económica profunda no espaço europeu. “Após o verão, serão muito importantes os sinais que o BCE vai dar à economia. Deve ser dado tempo para que as medidas [de aperto monetário] já tomadas surtam efeito. Para se evitar morrer pela cura”, referiu o eurodeputado português Pedro Marques, sublinhando que se esta linha política se mantiver vai agravar as dificuldades económicas de vários países e aumentar o desemprego.
A "chave" do futuro da economia europeia vai ser conhecida na reunião agendada para dia 14 de setembro, acredita também Rubén Segura-Cayuela, economista-chefe do Bank of America para a Europa. "Como a perspetiva não mudou muito desde a reunião de junho, não esperávamos agora uma orientação clara. Se não estavam prontos em junho, seria improvável que estarem agora, dada a ausência de notícias sólidas em qualquer direção”, explica.
O que é claro para os especialistas é que para mudar o rumo da política monetária – primeiro parando de subir os juros diretores e, depois, começando a baixá-los –, o BCE precisa que a inflação na Zona Euro dê sinais claros de descida (sobretudo a inflação subjacente, que é menos volátil). “O ônus da decisão para não subir [os juros diretores] em setembro recairá sobre a necessidade de melhorar as perspetivas de inflação", reforçou ainda Rubén Segura-Cayuela, que não espera um novo aumento dos juros diretores em setembro e empurra para junho de 2024 o primeiro corte nas taxas.
A verdade é que Christine Lagarde disse, no final de junho, considerar “improvável que, no futuro próximo, o banco central possa declarar com toda a confiança que as taxas máximas foram atingidas”. Mas, agora, o Conselho do BCE assegura que "os anteriores aumentos das taxas de juro estão a ser transmitidos de forma vigorosa: as condições de financiamento tornaram se novamente mais restritivas e estão a refrear cada vez mais a procura, o que constitui um importante fator para fazer a inflação regressar ao objetivo", o que irá refletir-se, depois, na trajetória da política monetária"
fonte: "Idealista.pt" - "2023/07/28"