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Players da mediação imobiliária, psicólogos e empresas de recursos humanos refletem sobre efeitos do stress e pressão no trabalho.
"A profissão de agente imobiliário foca-se numa experiência diária de atividades exigentes e desgastantes, que requer grande capacidade para conciliar várias responsabilidades e ser multifacetado, em diversos momentos. E num mercado cada vez mais “feroz” e competitivo, onde é preciso gerir a incerteza e expectativas, o stress e a pressão por resultados, o equilíbrio emocional é fundamental. A exigência da atividade de mediação imobiliária coloca, por isso, vários desafios aos profissionais do setor, também no que diz respeito à saúde mental. E se no caminho para o sucesso a resiliência e esforço são essenciais, o bem-estar pessoal e profissional é cada vez mais importante e valorizado.
idealista/news ouviu vários players do setor da mediação imobiliária, psicólogos e empresas especializadas em recursos humanos, procurando entender que efeitos pode ter o desgaste da profissão na saúde mental dos profissionais do setor. O tema da saúde mental ainda é ‘tabu’? Estarão as empresas mais preparadas para dar resposta a este desafio? O burnout é uma realidade? E que ferramentas existem para lidar com estas dificuldades? Há interesse das empresas em criar programas de apoio aos colaboradores? Que desafios enfrentam os agentes imobiliários?
Saúde mental: o “preço a pagar” pelo sucesso?
Os desafios colocados pela pandemia e a crise socioeconómica, desencadearam profundas e rápidas mudanças laborais que agravaram os riscos pré-existentes e colocaram em evidência a relevância da saúde psicológica e do bem-estar dos trabalhadores e empresas. O stress e problemas de saúde mental são, portanto, transversais a diferentes profissões e setores de atividade, de que é exemplo o imobiliário.
Uma das conclusões do último estudo "Prosperidade e Sustentabilidade das Organizações – Relatório do Custo do Stress e dos Problemas de Saúde Psicológica no Trabalho" elaborado pela Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP), divulgado no ano passado, revela que os riscos psicossociais e a falta de saúde mental no trabalho “não têm apenas um custo humano enorme, mas também um impacto imenso na sociedade e na economia”.
O relatório vem dar a conhecer que a perda de produtividade devida ao absentismo e ao presentismo causados pelo stress e outros problemas relacionados com a saúde mental custaram às empresas portuguesas até 5,3 mil milhões de euros por ano, uma vez que se estima que, em Portugal, os trabalhadores faltem devido a estes fatores até oito dias por ano e o presentismo (quando os trabalhadores vão para o seu local de emprego, mas funcionam abaixo das suas capacidades) possa ir até 15,8 dias. No total, a perda de produtividade pode custar às empresas portuguesas até 1,4% do seu volume de negócios, sendo que investir na saúde mental pode aumentar 30% a produtividade.
"Sem dúvida que a excessiva carga de trabalho é um dos principais desafios de hoje em dia. Sabemos que os trabalhadores portugueses (a tempo inteiro) trabalham mais horas do que a média europeia. Mas temos outros: o trabalho por turnos, as dificuldades de conciliação entre as várias esferas da vida, a falta de progressão na carreira, os baixos salários, a precariedade e insegurança laboral, entre tantos outros que contribuem diariamente para o aumento dos níveis de stress e de ansiedade dos trabalhadores", refere Joana Lopes, psicóloga e consultora da Happytown Portugal.
“A saúde deve ser uma preocupação das empresas hoje em dia. Saúde física e mental. A célebre expressão do “eu pessoal” e do “eu profissional” tem cada vez mais terreno. Por muito que possamos, enquanto indivíduos, separar os dois mundos, eles unem-se nas necessidades que vamos tendo ao longo da vida. Não entrando na intimidade de nenhum trabalhador, a empresa tem de estar atenta às necessidades que possam surgir, principalmente as menos visíveis”, defende por outro lado Paula Lampreia, people & culture director da Randstad Portugal.
A responsável cita o estudo do Global Talent Trends (2022-2023) realizado pela Mercer, que indica que 81% dos colaboradores sente estar em risco de burnout e que 80% dos colaboradores tem pelo menos um sintoma de burnout. “Este tema é real? É! Por muito que possamos tentar não fazer uma associação direta é também factual que somos um dos países da Europa em que se trabalha mais horas durante o dia de trabalho. Ou seja, a maior parte do nosso tempo útil é dedicado ao trabalho. Juntando esta realidade ao aumento do custo de vida, às condições sócioeconómicas nacionais, às condições salariais, que mesmo que numa maioria sejam condignas estão abaixo da média europeia, podemos estar a criar uma “tempestade perfeita” para o aumento de sintomas de exaustão”, argumenta.
Vânia Borges, diretora de recursos humanos do Grupo Adecco, considera que atualmente “existe uma maior compreensão do real impacto que a saúde tem no desempenho dos colaboradores e na forma como os mesmos encaram o trabalho e consequentemente nos malefícios que traz para a equipa e empresa”, e lembra que “programas eficazes de prevenção nesta área permitem reduzir o absentismo, aumentar a produtividade e reter talentos”. “Quando empresas e colaboradores estão de mãos dadas, todos saem a ganhar. É, sem dúvida, um win-win”, defende.
"É importante reconhecer que os problemas relacionados ao stress e ansiedade existem e podem afetar qualquer um de nós. São mais comuns do que aquilo que podemos pensar. Precisamos de falar sobre isso, e de formar os trabalhadores e as lideranças para saberem identificar sinais de alarme e agir em caso de sentirem desafios ao nível da saúde psicológica, ou caso identifiquem esse desafio naqueles que lhes são próximos", acrescenta a psicóloga Joana Lopes.
Fazer carreira no imobiliário: como lidar com o stress e pressão?
Sendo a mediação imobiliária uma área de negócio de natureza competitiva, onde há muita concorrência, como é que ao longo dos anos, as “caras” de grandes empresas lidaram com a pressão, stress e ansiedade inerentes à profissão? Ser CEO traz maior responsabilidade? Como enfrentaram os obstáculos?
“A empatia é, hoje em dia, um dos atributos fundamentais no mundo corporativo. Só assim garantiremos que os que nos rodeiam estão a cada momento nas melhores condições para enfrentar os desafios”, sublinha o gestor do setor imobiliário.
Os principais desafios dos agentes na atualidade
Garantir o bem-estar físico e mental dos agentes imobiliários é crucial, mas a rotina e stress diários podem mesmo “atrapalhar” o equilíbrio necessário entre a vida profissional e pessoal. É preciso foco e disciplina, e ao mesmo tempo garantir que há espaço para a família, amigos e outras atividades de lazer. Fazer carreira no imobiliário é, também por isso, desafiante. E em alguns casos dar lugar a um estado de exaustão mental e emocional.
Ricardo Sousa considera que o modelo de negócio proporciona um elevado nível de autonomia, permitindo uma gestão eficaz do tempo, mas reconhece que a “pressão financeira é um fator de stress considerável, especialmente para aqueles sem estabilidade económica”. “Sendo os rendimentos inteiramente variáveis, os agentes podem enfrentar incertezas financeiras, o que requer uma gestão cuidadosa e uma atitude resiliente perante os altos e baixos inerentes à profissão”, diz.
Outros dos principais desafios, segundo Alfredo Valente, está relacionado com “as flutuações do mercado, com momentos de maior e menor atividade, e uma forte concorrência”. “Após um ciclo muito positivo pode ser desafiante encarar um período de maior dificuldade nas angariações ou na concretização de negócios, por exemplo, o que pode provocar alguma desmotivação ou ansiedade. Falamos frequentemente, a este respeito, no efeito “elevador emocional”, já que tipicamente a vida de um consultor imobiliário oscila entre momentos de sucesso, na sequência de uma boa transação ou angariação, e momentos de frustração, quando uma proposta não é aceite, por exemplo”, explica.
Patrícia Santos lembra ainda que a necessidade de lidar com clientes em diferentes fases emocionais da compra ou venda de propriedades “adiciona complexidade ao trabalho”. “A capacidade de gerir expectativas, resolver conflitos e manter um equilíbrio emocional é crucial. Os picos de trabalho, especialmente em momentos de maior procura, também podem levar à exaustão e desafiar a saúde mental”, destaca a responsável, para quem a pressão por resultados, o medo da rejeição, a volatilidade do mercado e a rápida evolução tecnológica se apresentam como outros fatores que podem gerar stress e ansiedade.
Há desafios que podem variar de acordo com a experiência e a personalidade de cada consultor imobiliário, mas tendem a ser comuns na atividade imobiliária como um todo, na visão de Guida Sousa. De acordo com a mediadora, os principais desafios psicológicos enfrentados pelos agentes imobiliários, são diversos e de várias ordens: desde lidar com a pressão e stress inerente às negociações; lidar com o fracasso e rejeição, seja de clientes que decidem não fechar o negócio em curso ou de concorrência acérrima com outros colegas; manter a motivação e perseverança num mercado em constante mudança; encontrar tempo para cuidar da profissão e dos interesses pessoais; gerir a competitividade e comparação constantes.
Além disso, diz Beatriz Rubio, é importante desenvolver uma relação saudável com os clientes “saber interagir e comunicar com os restantes profissionais do setor, assim como obter mais informação sobre o mercado (pois está mais disponível do que nunca), sem se deixar abater pelos muitos insucessos, revezes e contratempos que o consultor vai tendo no dia à dia”.
Num artigo de opinião recente, Francisco Mota Ferreira, consultor e autor de livros sobre investimentos e imobiliário, lembra que um agente tem de “aprender a lidar com a natureza competitiva e muitas vezes imprevisível do mercado imobiliário” muito rapidamente, algo que “coloca o stress e a adrenalina em níveis muito elevados”. “Junte-se a isso a pressão para fechar negócio (e a frustração de não o conseguir fazer), atingir metas (todos nós queremos anunciar que somos o melhor da nossa rua) e lidar com as flutuações do mercado para que a estabilidade emocional possa ser afetada. Claro está que, no reverso da medalha, se não estamos bem e não conseguimos lidar com o constante nível elevado de stress, isso pode afetar a nossa capacidade de desempenho, comunicação e tomada de decisões, potencialmente comprometendo a qualidade do serviço prestado e a confiança dos clientes”, defende.
Aumentar o bem-estar no trabalho: medidas preventivas
Para Paula Lampreia, da Randstad Portugal, os riscos de saúde física e mental existem em qualquer profissão, sendo essencial criar condições laborais que permitam que os colaboradores “trabalhem sentindo-se bem, integrados, em condições dignas e com uma realidade de trabalho que cumpre para além de critérios legais, critérios morais, para que estes riscos não sejam criados pela própria empresa e quem caso existam, possam ser acompanhados, compreendidos e que sejam assegurados todos os recursos que permitam salvaguardar a posição do colaborador num momento de recuperação/cura”.
“Falamos muito da importância da escuta ativa e de facto, acreditamos que criar mecanismos que permitam que os trabalhadores apresentem a sua visão, falem sobre os temas que mais os desafiam, criando canais de comunicação que garantam a confidencialidade necessária e potenciem a segurança psicológica, são potenciadores de equilíbrio, de sentido de pertença e bem-estar”, refere a especialista em recursos humanos.
Vânia Borges, do Grupo Adecco, considera que existem algumas medidas preventivas que as empresas podem adotar, seja qual for a área de negócio, para que a saúde das pessoas seja preservada. “Para além da consulta anual de riscos profissionais e da avaliação dos riscos psicossociais que são fundamentais para percebermos como estão as equipas a sentir-se nestas áreas, é importante que a empresa esteja atenta a melhorias físicas no posto de trabalho, como postos de trabalho ergonómicos, por forma a prevenir lesões musculares e também outras medidas ao nível de bem-estar, como a implementação de políticas de flexibilidade horária, promoção de um ambiente profissional saudável, promoção da atividade física, acesso a programas de saúde mental, entre outros. Cada vez mais esta é uma preocupação das empresas que deve ser olhada com a atenção merecida”, explica.
As profissionais de talentos confirmam que há um interesse cada vez maior por parte das empresas, na sua generalidade, em criar programas de apoio aos colaboradores, tendo em vista a prevenção da degradação da saúde mental das suas equipas. E a especialista da Adecco dá como exemplo empresas que permitem ao colaborador escolher os benefícios que lhe são mais vantajosos, mediante um leque previamente disponibiliza, podendo escolher entre horários flexíveis, horas de ginásio, consultas de especialidade, horas de descanso, acordos com entidades, entre outros, lembrando sempre que nem tudo serve para todos e que, portanto, é importante estar atento às necessidades individuais.
Uma visão partilhada por Paula Lampreia. A responsável da Randstad conta que já há muitas empresas a investirem parte do seu ‘budget’ em iniciativas que promovam o bem-estar dos colaboradores, “que podem ir desde a promoção do bem-estar físico (ginásio, aulas de grupo, aulas online de várias modalidades, nutrição) passando pelo bem estar mental (consultas de psicologia) mas chegando hoje também ao bem-estar ao nível da segurança financeira através do coaching financeiro, aulas de economia doméstica, entre muitas outras soluções”.
“Acredito que existe uma cada vez maior preocupação das empresas no apoio aos colaboradores. Porque se começaram a trazer temas que antes eram tabu para a mesa das reflexões de liderança”, sublinha.
A psicóloga Joana Lopes aponta três passos fundamentais para apoiar a saúde mental nas empresas:
Apoios aos agentes imobiliários: quais as práticas das empresas?
O idealista/news procurou saber, junto dos players de mediação imobiliária, se a saúde mental é uma preocupação nas suas empresas, e se têm algum tipo de programas/políticas de apoio e/ou formação nesse sentido:
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